Powered By Blogger

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

'Chávez acredita que é insubstituível', diz biógrafa do presidente venezuelano


RIO - A jornalista venezuelana Cristina Marcano, que assina com Alberto Barrera Tyska uma das mais respeitadas biografias sobre Hugo Chávez, acredita que os 10 anos do no poder deram ao presidente maturidade e habilidade para comandar o regime mais personalista da história venezuelana. Em entrevista ao site do GLOBO, a autora de "Hugo Chávez sem uniforme" (Gryphus) avalia as derrotas políticas e conquistas sociais do presidente venezuelano, crítica o apoio de Luiz Inácio Lula da Silva à sua reeleição indefinida e aposta que, acreditando ser insubstituível, Chávez não vai desistir de continuar no poder mesmo se for derrotado no referendo do próximo dia 15, quando sua proposta de acabar com o limite de mandatos será votada.

O GLOBO: Hugo Chávez é hoje o mesmo de dez anos atrás?
CRISTINA MARCANO: Acredito que, em essência, Hugo Chávez é o mesmo de dez anos atrás e de 17 anos atrás, quando tentou um golpe de Estado: um militar autoritário com preocupações sociais, homem de poder, muita perseverança e um instinto natural para se sobrepor às adversidades e desconcertar seus adversários. Mas não há dúvida de que amadureceu nestes anos e hoje é um político que se move no tabuleiro nacional e internacional com habilidade. O que em 1999 eram certos sinais de narcisismo se transformou no regime mais personalista da história contemporânea venezuelana. Seu projeto político também foi mudando com o poder e a depuração de seu entorno. Os setores mais democráticos da aliança que chegou ao governo em 1999 se separaram ou foram afastados do governo e hoje os setores mais duros mandam. Chávez passou de negar qualquer identificação com a esquerda a declarar-se socialista em 2005, durante um fórum no Brasil, e depois passou a citar Marx e se declarar até saudoso da ex-URSS. Mas é tão pragmático que, se sentir que seu poder está em risco, não será estranho o ver fazer uma virada para a social-democracia.
O GLOBO: Quais suas principias vitórias e derrotas nesses dez anos?
CRISTINA: Politicamente, é um fenômeno eleitoral, por sua assertividade proselitista e seu discurso centrado na igualdade social e na reivindicação dos pobres, mas também favorecido pelos erros da liderança de oposição e os recursos do Estado. Formou o partido mais poderoso do país e também cooptou todos os demais poderes públicos. Nem o Parlamento, nem a Promotoria, nem a Controladoria, nem o Tribunal Supremo, nem a Defensoria do Povo se atrevem hoje a contradizer o presidente. Mencionaria a parte, como triunfo épico, seu retorno ao poder depois do golpe de Estado de 2002.
Sua grande derrota, não há dúvida, foi a rejeição à sua radical reforma constitucional em 2007 e, mais recentemente, a perda de postos-chave nas eleições regionais. Mas também houve pequenas derrotas cotidianas, que não são notícia, como o chavismo não ter podido calar as universidades.
No plano econômico, é inegável a eficácia das missões sociais, a diminuição da pobreza em termos de consumo, o acesso à saúde e à educação, graças à distribuição da renda do petróleo. A grande derrota para um homem que gosta de falar de independência é que o país importa mais do que nunca e é mais dependente do petróleo que antes, o parque industrial foi reduzido e continuamos tendo como primeiro sócio comercial os Estados Unidos e a Colômbia.

O GLOBO: De que maneira a queda dos preços do petróleo afeta os planos de Chávez de promover o que ele chama de socialismo do século XXI?
CRISTINA: Os analistas concordam que o governo não poderá manter o nível de gastos e deverá fazer cortes, mas não escutaremos qualquer medida de envergadura antes do referendo sobre a reeleição indefinida.
O GLOBO: O que é possível esperar da relação do governo Chávez com o mundo se a reeleição sem limites for aprovada?
CRISTINA: Segundo as agências de notícias, o presidente Lula respaldou a reeleição indefinida na Venezuela sob o argumento superficial, para não dizer irresponsável, de que "Chávez ainda é jovem". Se a emenda for aprovada, será candidato "jovem" e velho já que poderá se candidatar em 2012, 2018, 2024, 2030, quando tiver 76 anos, e enquanto estiver vivo. As medidas que tomar dependerão da margem de vantagem do "sim". Se for grande, creio que insistirá em impor a reforma constitucional que já foi rejeitada por outras vias. De fato, no ano passado já aprovou por decreto algumas dessas disposições, o que é ignorar a vontade popular.
O GLOBO: Se o "não" ganhar no referendo, Chávez já escolheu algum possível sucessor?
CRISTINA: Chávez acredita que é imprescindível e insubstituível. Não seria loucura pensar que se a emenda for rejeitada não se dará por vencido e insistirá no próximo ano ou em 2011 com outra emenda até alcançar seu objetivo. Se os venezuelanos não permitirem, no meio político venezuelano se especula que poderia pensar em seu irmão mais velho, Adán Chávez, ou sua filha María Gabriela, a mais próxima dele, para garantir que o poder fique em família. Outro nome que se menciona é Jorge Rodríguez, que foi seu vice-presidente e atualmente é prefeito de um município de Caracas, além de ser chefe da campanha pelo "sim". Também há dois ex-militares na lista: Diosdado Cabello, ex-ministro e ex-vice-presidente, e Jesse Chacón, atual ministro de Comunicação

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários pertinentes, educados e respeitosos são sempre muito bem vindos!!!

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.